terça-feira, 12 de abril de 2011

Acredito piamente na beleza do acaso

Muitos chamam de sinais, outros, meras coincidências. Os mais jocosos ou místicos provocam neologismos e chamam até os encontros “mais elaborados” do acaso de "Deuscidência". O fato é que estava pensando muito sobre um determinado assunto, e ao me dedicar à escrita de algumas poucas linhas para o blog, eis que recebo um PPS, traduzindo talvez ainda melhor, o que eu realmente tinha para dizer. O texto começa assim: "Há uma indisfarçável e sedutora beleza na personalidade de muitos Homens que hoje estão na idade madura.”

Quem me enviou foi Sandra Castiel, uma mulher de profunda generosidade e com outros históricos de conexão criativa comigo. Ela diz que o texto é assinado por Zelia Gatai, mas que a internet sempre nos deixa em dúvida sobre a veracidade das autorias. De qualquer maneira, achei que valia a pena compartilhá-lo para que nós, mulheres livres ,pensemos bem para onde estamos vertendo nossas atenções, ou desprezando possibilidades. Pronto, fiz algumas considerações incluí o tal texto e .... apertei a tecla send do G-mail. Minutos depois, Marlon já o havia postado, ciente da importância do timming em suas publicações.

Depois de tudo organizado no tempo justo, a vida, ou o bom e famigerado acaso me trazem ainda mais inspiração. Pára tudo! Escrevo pro Marlon e digo que a crônica não está pronta. Logo após as palavras de Zelia, algo ainda mais inusitado me acontece. Digo a ele que é preciso repostar num outro momento, pois precisava continuar meus devaneios poético –filosóficos depois das descobertas derradeiras.

Voltando ao momento “apertei a tecla send do G-mail”, volto a arrumar meus papeis, já que é oficialmente o primeiro dia útil do ano, seguido de um carnaval a cada ano mais extenso. Também é meu primeiro dia de trabalho em casa, sem mais ninguém da família aqui hospedado. Mentalmente escuto Paralamas do Sucesso: “Eu hoje joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado passar por mim. Cartas e fotografias, gente que foi embora... A casa fica bem melhor assim.”

Inacreditavelmente descubro preciosidades que muito me emocionam: são cartas de 1986, escritas por Paulo Tollini, meu noivo naquele tempo. Devia ter seus vinte e três anos na época. Hoje teria uns 47 anos, caso não tivesse falecido em decorrência de uma diabete infantil e devastadora. Releio todas as suas frases tão bem escritas e me resurpreendo com a profunda delicadeza, pureza e amor sincero contidas em cada letra tão bem traçada. Senti uma saudade imensa e a constatação nada óbvia de que continuo tendo a mesma essência da jovem apaixonada e inquieta que ele soube tão bem amar e fazer feliz. Quando Paulo queria se casar, eu tinha meus dezenove anos, um vulcão criativo que explodiria ou implodiria. Não nos casamos. Outra mocinha teve esse privilégio. Mesmo assim ele costumava me visitar sempre, trazendo notícias de sua família bem formada, seus filhos lindos, assim como ele. Passaram- se dois anos e comecei a sentir falta de sua constante e amigável procura. Meu pai me trouxe a notícia de que havia lido no obituário dos jornais o seu nome. Eu me lembro exatamente onde eu estava quando ouvi de meu pai a terrível notícia: no boteco Paz e Amor da Garcia D Ávila, tomando café da manhã com a família. Era exatamente no mesmo boteco que Renato Russo costumava tomar os seus porres homéricos. Logo Renato, que havia sido trilha sonora do nosso romance de mais de quatro anos: “Mudaram as estações, nada mudou. Quando eu penso em alguém, só penso em você. Daí então estamos bem.”

As estações haviam mudado e tudo havia mudado. Paulo está morto. Renato também. E eu não estava nada bem. Percebi com meu olhar amadurecido e sofrido por continuar a viver agora em outra época, tempo de amores líquidos, o quanto parecia improvável receber cartas com aquele teor de doçura, de crença, de respeito, de paixão excitada e alegre, de amor verdadeiro, calcado em valores profundos.

Depois pensei que eu, Paula estou viva e que precisaria reler com mais atenção ainda o texto que eu mesma havia compartilhado com o mundo: Leia

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