terça-feira, 23 de março de 2010

Riso Rasgado



Tenho andado tanto de metrô, que meu carro, daqui a pouco, vai ficar mal acostumado.
Além da economia de tempo, dinheiro - sim porque deixamos com o flanelinha, mais que o valor da passagem - me pergunto: tem algo melhor do que não procurar vaga para estacionar, não se contorcer toda para estacionar, não se preocupar se seu carro está sendo roubado ou não? E a blitz? Lei Seca?

Ainda aproveito para observar os transeuntes. As modas, as cafonices, as atitudes, as conversas, os olhares perdidos. Fico imaginando a história de cada um. Proximidade assim só em elevador. Mas é tão rápido. E não temos tão boa angulação para a observação do outro.

Fora do Brasil o passageiro lê mais, fala mais baixo, se entreolha menos, e ha organização maior nas escadas rolantes. Em qualquer lugar do mundo, quem fica parado, ocupa o canto direito para dar passagem. Aqui, se você pede licença, pode ser ofensivo. Como se a minha urgência pudesse dizer que o tempo do outro é lerdeza. Ai, terapia nesse povo!

Outro dia, meu vestido de malha comprido enganchou na escada rolante, bem no final, numa descida. Não sei como, uma moeda ficou presa num daquelas frestas minúsculas e meu vestido, entre a moeda e uma parede da fresta. Saí andando e parecia que eu estava presa por um elástico. Puxada para trás, acabei atropelando muita gente. Ri rasgadamente. Claro, pedi muitas desculpas. Mas o melhor de tudo foram as diversas reações. Uns ficam danados, como se você fosse uma louca que se prende de propósito na escada. Uns sorriem, segurando a gargalhada, outros ficam curiosos, outros querem fazer de tudo para ajudar. Dessa vez, muitos homens ficaram ali de cavalheiros... Será que na fantasia deles, eu sairia dali sem o vestido?

Pois bem, para me salvar do infortúnio, me aparece um funcionário do metrô extremamente solícito que me pede licença, e tenta puxar a parte do meu vestido que está presa. Situação e posição curiosa tive que enfrentar. Aos poucos eu suava em bicas. Cantarolava para esquecer a proximidade com esse moçoilo tão preparado na sua força. Ai, Caropita! Ele podia ser um pouco mais feio! Apesar dos inúmeros músculos, nada de salvar meu vestido. Ele trouxe uma tesoura cegueta. Pediu outra ainda acocorado aos meus pés, tentando com as próprias mãos. Infelizmente chega uma tesoura competente. Vai-se uma naca de vestido.

Como era estampado, não deu muito na pinta de rasgado, destroçado. Seguindo o roteiro, o rapaz pega uma prancheta e vai me acompanhando, fazendo perguntas, anotando nome, telefone. Daí eu vou me divertindo por dentro, e já imaginando mil histórias para um romance. De repente eu interrompo as perguntas, e solicito que ele me veja desfilar na sua frente. Precisava saber se olhando meu caminhar à frente, eu ficava comprometida. Ele disse que eu estava ótima. Adorei acreditar.

Chegando ao meu destino, tratei de andar segurando o vestido como uma dama antiga. Assim, todos tomariam meu desnivelamento nas saias, simplesmente por uma questão de elegância de gesto.

Foi assim que entrei na sala de reunião de um possível patrocinador que tem como slogan “Beleza sempre”. No final da reunião, quando já era a melhor amiga da infância da chefa do marketing, resolvi contar minha história inusitada do dia. Daí, eu mesma cheguei à conclusão, que fiz jus ao slogan da marca, e saí de lá com a certeza de negócio fechado. Hoje de tarde eles me telefonaram, dizendo que precisavam falar comigo com urgência. Bom sinal. Se for preciso, me enrosco de novo no metrô. Por sinal, meu afilhado esteve aqui neste final de semana. Sua avó é costureira. Levou o vestido. Ainda vou ganhar a bainha de graça. Ele e eu criamos uma bossa que o vestido vai ficar mais curto só nas laterais. Vai ficar assim como são as camisas de manga comprida dos homens.

Ok, ok. Podem me chamar de Polyana....rs.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sortuda hein?!

Anônimo disse...

Polyana!